Nomes e máscaras para o Diabo.
- Cain Mireen

- 15 de set.
- 15 min de leitura
Os Muitos Nomes do Velho: Velho Nick, Robin Goodfellow e o Homem de Preto
O Diabo é o que mais possui apelidos, segundo a crença de que não podia falar seu nome se não Ele ouvia de longe; Então era dado a Ele apelidos e títulos que sugerisse o seu poder, seu domínios e sua aparência. Na Via Folclórica da bruxaria o Espirito que rege o culto-espiritual da bruxa muitas vezes se mostra em diversas formas e aspectos, tendo chifres ou não, sendo um homem negro ou não. Conforme os relatos folclóricos e contos populares onde é visto o Príncipe das Trevas tendo pés de bode ou portador de uma grande beleza.
Para entender, devo dá a definição de cada termo aqui utilizado; Nome é definido como uma designação principal que identifica alguém ou algo, ele dá a identidade; aqui posso falar que cada via tradicional da bruxaria vai ter um nome que designa o Espirito-Iniciador desse caminho ou o Patrono de um Clã; Já o apelido é um nome alternativo geralmente familiar, popular ou afetivo dado pela pessoa para que possa ser evitado de pronunciar o nome verdadeiro por respeito, no folclore é dado apelido para não chamar diretamente enquanto isso, o título que é uma forma honorifica ou descritiva que acompanha o nome, marcando sua função, poder, cargo ou aspecto especifico que expressa o seu poder. No meu caminho o Velho recebe esse termo como apelido para designar que Ele é o Antigo, enquanto o título que ele recebe melhor um dos títulos é o Senhor da Forja, Rei dos Mortos ou até mesmo o Rei da Encruzilhada que denota o poder, aspecto e cargo; Já o nome é secreto isso é uma relação entre o Iniciador – Iniciado.

Sabemos que a Bruxa do velho estilo vai adotar alguns nomes folclóricos para expressar o Espírito-Iniciador do Caminho Torto. Aqui ela vai buscar no folclore local o nome que é dado ao "Diabo das Bruxas" outras muitas vezes o próprio Espirito vai sussurrar no ouvido o seu Nome particular que será conhecido pela bruxa. Mas sempre eu perguntava porquê as bruxas chamava o Espírito portador de chifres (nem sempre portava) de Diabo. O Diabo representa tudo aquilo que é oposto, estranho, oculto e selvagem na sociedade; e como as bruxas do velho estilo são tudo isso e mais alguma coisa foi feito que o termo "Diabo" passou a ser um titulo para designar todos os espíritos que trabalha com a bruxa. Chamar o Espírito da Bruxaria de Diabo é uma escolha dela mesma, até porque será nesse Espírito que ela reconhecerá todas as benção e maldições que Ele carrega sendo assim reunindo em si todas as faces da natureza assustadora, da encruzilhada movimentada, os poderes da morte e da vida, a sabedoria proibida e também os Presentes de Fadas.
Quero explorar alguns nomes, apelidos e títulos que o Diabo das bruxas recebeu nas tradições folclóricas das Ilhas Britânicas. O Velho, figura multifacetada do folclore britânico que ora assume o papel de mestre das bruxas, ora o do demônio embusteiro aparece sob diversos nomes e formas, cada um carregando nuances regionais e simbólicas que revelam camadas do imaginário coletivo.
Na tradição escocesa, o Diabo é tratado frequentemente com nomes jocosos, bem-humorados ou que evocam raízes pré-cristãs; costuma vir acompanhado do adjetivo auld (“velho”), um tom de ironia que “puxa” a figura para o cotidiano.
Auld Clootie (velho trapo) — refere-se a um termo gaélico usado para o Diabo, destacando sua aparência esfarrapada ou corpo desfeito. Auld Hornie / Horny Clootie — provável referência a divindades da fertilidade com chifres (como Cernunnos ou Freya), que foram assimiladas ao Diabo por tradições cristãs; Wee Man (“homem pequeno”) — outro apelido coloquial escocês para o Diabo; Earl o’ Hell, Plotcock, e outros nomes regionais ilustram uma longa lista de apelidos que humanizam ou satirizam sua presença nas histórias locais; Nickie-Ben — outro nome escocês citado como favorito de alguns autores. Robert Burns, no poema Address to the Deil, menciona os apelidos usados pela Escócia: “Auld Hornie, Satan, Nick or Clootie”

Na Escócia, os dois apelidos mais comuns eram Auld Hornie (“O Velho Cornudo”) e Auld Clootie (“O Velho com Casco Fendido”). Hornie ressalta os chifres, símbolo ancestral de fertilidade e poder, mas que sob o olhar cristão tornou-se marca demoníaca. Clootie, por sua vez, deriva de cloot — casco ou pata fendida. Na crença popular, o Diabo deixava suas marcas nos campos e pedras ao caminhar disfarçado de homem.
Segundo o folclorista Walter Scott em Letters on Demonology and Witchcraft (1830), esses nomes eram usados por cautela: chamá-lo de forma indireta era uma maneira de não ofendê-lo nem atraí-lo com demasiada força. Nas Terras Altas da Escócia, outro nome ecoava: Black Donald (Domhnall Dubh) associado a um diabo de pele escura, talvez por influência das descrições inquisitoriais que falavam de um “homem negro” visitando as bruxas. Também ligado ao trickster celta Donn, senhor dos mortos. A crença dizia que Black Donald nunca podia esconder seu pé de cabra, não importava quão bem se disfarçasse. Era esse detalhe que o denunciava.Esses nomes muitas vezes surgiam de forma afetuosa, satírica ou irônica — uma maneira de incorporar o demônio ao cotidiano, em histórias contadas em lares rurais e reuniões familiares.
Outro nome intrigante é Robin Goodfellow, também conhecido como Puck. Na literatura renascentista, especialmente em Shakespeare (Sonho de Uma Noite de Verão), ele aparece como um espírito brincalhão, mestre de ilusões e metamorfoses.Contudo, a ligação de Robin com a tradição bruxa vai além da peça teatral: no folclore, muitos acreditavam que Robin era um nome velado do Diabo das bruxas. As bruxas podiam chamá-lo de “Goodfellow” para suavizar sua presença, escondendo sob uma máscara alegre a figura do Velho tentador.
O “Homem Negro” o Diabo nas confissões de bruxaria escocesas; Nos processos de feitiçaria (séculos XVI–XVII), o Diabo aparece com frequência como “um homem preto/negro” (the Black Man), muitas vezes frio ao toque, vestido de negro e com pés fendidos traços que se tornaram lugar-comum da demonologia local. Nos julgamentos escoceses e ingleses de bruxaria, uma figura recorrente é o Black Man — o “Homem Negro”. Ele aparecia durante os sabás, vestindo roupas escuras, por vezes com pele marcada ou animalizada. Muitas bruxas confessaram, sob tortura ou pressão, que haviam “assinado seu livro” diante dele, recebendo uma marca em troca. O “Black Man” pode ser entendido como a roupagem demonizada de antigos deuses e espíritos — uma fusão entre o imaginário cristão e o folclore pagão. Ele é a face noturna do Velho, mais temida, ligada ao pacto, ao fogo e às iniciações secretas.

Na Inglaterra rural, especialmente em Lincolnshire, havia aversão a mencionar o nome “Diabo” diretamente, preferindo apelidos mais discretos: Old Nick, Old Sam, Sammiwell, Old Harry, the Old ’Un, Old Lad formas usadas para evitar a evocação direta do Diabo. Dizer “Não diga o Diabo. Diga ‘Owd Lad’ ou ele virá quando for chamado”, era um tipo de superstição verbal popular. Old Nick o mais célebre apelido inglês; a etimologia é disputada: hipóteses vão de Old Iniquity (personagem dos mistérios teatrais) a “Nick” como hipocorístico de Nicholas, entre outras. Old Scratch. Muito comum no inglês literário (aparece em Dickens e outros), com provável origem no nórdico antigo skratti / skratte (“demônio/trasgo”), via scrat/scratte do inglês médio. Old Bogey / Bogie / Bogle. Bogey pode ser “espírito/assombração” e, por extensão, um nome do Diabo em uso coloquial; a família lexical se liga ao escocês bogle (“trasgo, fantasma”). Old Donald / Donal um apelido anglo-gaélico possivelmente derivado do clã MacDonald, conhecido como “Old Donald”, e associado ao Diabo por rivalidade política ou simbólica. Na Inglaterra, o nome mais famoso era Old Nick. A origem desse epíteto é debatida, alguns associam à palavra holandesa Nik, ligada a espíritos aquáticos como Nikker e Nixie, outros relacionam ao verbo to nick (roubar, enganar). O termo ganhou tanta popularidade que sobrevive até hoje na língua inglesa como sinônimo casual do Diabo. Francis Grose, em seu Classical Dictionary of the Vulgar Tongue (1785), já registrava Old Nick como apelido corrente para o Inimigo.
No sul da Inglaterra, sobretudo em Dorset, chamava-se o Diabo de Old Harry. O folclore costeiro associa o nome ao penhasco Old Harry Rocks. Alguns estudiosos (cf. Brewer’s Dictionary of Phrase and Fable, 1898) sugerem que Harry pode derivar de “Harrier” perseguidor, caçador evocando o Diabo como aquele que persegue as almas. De origem escandinava, Old Scratch vem do nórdico antigo skratte, que designava um demônio ou espírito zombeteiro.

Nos séculos XVII e XVIII, o apelido se espalhou entre camponeses ingleses e depois chegou até o Novo Mundo, tornando-se comum também no folclore norte-americano. O poema “Address to the Devil / Address to the Deil” de Robert Burns (1785/86) é um verdadeiro “catálogo” de apelidos escoceses Auld Hornie, Nick, Clootie, Auld Hangie e cristaliza, para leitores modernos, o tom burlesco com que o povo tratava o Diabo. Edições fidedignas reproduzem os versos iniciais tal como citados acima.
Address to the Devil
By Robert Burns
O Prince, O chief of many throned pow'rs!
That led th' embattled seraphim to war!
(Milton, Paradise Lost)
O thou! whatever title suit thee,—
Auld Hornie, Satan, Nick, or Clootie!
Wha in yon cavern, grim an' sootie,
Clos'd under hatches,
Spairges about the brunstane cootie
To scaud poor wretches!
Hear me, Auld Hangie, for a wee,
An' let poor damned bodies be;
I'm sure sma' pleasure it can gie,
E'en to a deil,
To skelp an' scaud poor dogs like me,
An' hear us squeel!
Great is thy pow'r, an' great thy fame;
Far ken'd an' noted is thy name;
An' tho' yon lowin heugh's thy hame,
Thou travels far;
An' faith! thou's neither lag nor lame,
Nor blate nor scaur.
Whyles, ranging like a roarin lion,
For prey a' holes an' corners tryin;
Whyles, on the strong-wing'd tempest flyin,
Tirlin' the kirks;
Whyles, in the human bosom pryin,
Unseen thou lurks.
I've heard my rev'rend graunie say,
In lanely glens ye like to stray;
Or whare auld ruin'd castles gray
Nod to the moon,
Ye fright the nightly wand'rer's way
Wi' eldritch croon.
When twilight did my graunie summon
To say her pray'rs, douce honest woman!
Aft yont the dike she's heard you bummin,
Wi' eerie drone;
Or, rustlin thro' the boortrees comin,
Wi' heavy groan.
Ae dreary, windy, winter night,
The stars shot down wi' sklentin light,
Wi' you mysel I gat a fright,
Ayont the lough;
Ye like a rash-buss stood in sight,
Wi' waving sugh.
The cudgel in my nieve did shake,
Each bristl'd hair stood like a stake,
When wi' an eldritch, stoor "Quaick, quaick,"
Amang the springs,
Awa ye squatter'd like a drake,
On whistling wings.
Let warlocks grim an' wither'd hags
Tell how wi' you on ragweed nags
They skim the muirs an' dizzy crags
Wi' wicked speed;
And in kirk-yards renew their leagues,
Owre howket dead.
Thence, countra wives wi' toil an' pain
May plunge an' plunge the kirn in vain;
For oh! the yellow treasure's taen
By witchin skill;
An' dawtet, twal-pint hawkie's gaen
As yell's the bill.
Thence, mystic knots mak great abuse,
On young guidmen, fond, keen, an' croose;
When the best wark-lume i' the house,
By cantraip wit,
Is instant made no worth a louse,
Just at the bit.
When thowes dissolve the snawy hoord,
An' float the jinglin icy-boord,
Then water-kelpies haunt the foord
By your direction,
An' nighted trav'lers are allur'd
To their destruction.
And aft your moss-traversing spunkies
Decoy the wight that late an drunk is:
The bleezin, curst, mischievous monkeys
Delude his eyes,
Till in some miry slough he sunk is,
Ne'er mair to rise.
When Masons' mystic word an grip
In storms an' tempests raise you up,
Some cock or cat your rage maun stop,
Or, strange to tell!
The youngest brither ye wad whip
Aff straught to hell!
Lang syne, in Eden'd bonie yard,
When youthfu' lovers first were pair'd,
An all the soul of love they shar'd,
The raptur'd hour,
Sweet on the fragrant flow'ry swaird,
In shady bow'r;
Then you, ye auld snick-drawin dog!
Ye cam to Paradise incog,
And play'd on man a cursed brogue,
(Black be your fa'!)
An gied the infant warld a shog,
Maist ruin'd a'.
D'ye mind that day, when in a bizz,
Wi' reeket duds an reestet gizz,
Ye did present your smoutie phiz
Mang better folk,
An' sklented on the man of Uz
Your spitefu' joke?
An' how ye gat him i' your thrall,
An' brak him out o' house and hal',
While scabs and blotches did him gall,
Wi' bitter claw,
An' lows'd his ill-tongued, wicked scaul,
Was warst ava?
But a' your doings to rehearse,
Your wily snares an' fechtin fierce,
Sin' that day Michael did you pierce,
Down to this time,
Wad ding a Lallan tongue, or Erse,
In prose or rhyme.
An' now, Auld Cloots, I ken ye're thinkin,
A certain Bardie's rantin, drinkin,
Some luckless hour will send him linkin,
To your black pit;
But faith! he'll turn a corner jinkin,
An' cheat you yet.
But fare you weel, Auld Nickie-ben!
O wad ye tak a thought an' men'!
Ye aiblins might—I dinna ken—
Still hae a stake:
I'm wae to think upo' yon den,
Ev'n for your sake!
Endereço ao Diabo
Por Robert Burns
Ó Príncipe, ó chefe de muitos poderes entronizados!
Que conduziu os serafins em batalha!
(Milton, Paraíso Perdido)
Ó tu! Qualquer que seja o título que te sirva,
—Velho Chifre, Satanás, Nick ou Clootie!
Que naquela caverna, sombria e enfumaçada,
Fechado sob portinholas,
Espalhas sobre a brasa ardente
Para escaldar pobres desgraçados!
Escuta-me, Velho Pendurado, por um instante,
E deixa os pobres corpos condenados em paz;
Tenho certeza de que pouco prazer podes dar,
Mesmo a um diabo,
Em açoitar e escaldar cães como eu,
E nos ouvir gritar!
Grande é teu poder, e grande tua fama;
Longe e amplamente conhecida é tua reputação;
E embora aquele rochedo flamejante seja teu lar,
Viajas muito;E, fé! não és nem lento nem manco,
Nem tímido nem temeroso.
Por vezes, vagando como um leão rugidor,
Em busca de presas, todos os buracos e cantos explorando;
Por vezes, voando na tempestade de asas fortes,
Trocando as igrejas;
Por vezes, no seio humano espreitando,
, te ocultas.
Ouvi minha reverenda avó dizer,
Que em vales solitários gostas de passear;
Ou onde velhos castelos arruinados e cinzentos
Acenam para a lua,
Assustas o caminho do viajante noturno
Com cânticos estranhos.
Quando o crepúsculo chamava minha
suas orações, mulher modesta e honesta!
Frequentemente além do muro ela te ouvia zumbindo,
Com som sobrenatural;
Ou, pelo barulho entre as árvores vindo,
Com pesado gemido.
Numa noite sombria, ventosa, de inverno,
As estrelas caíam com luz oblíqua,
Com você mesmo tomei um susto,
Além do lago;
Parecias um arbusto a arder à vista,
vento a balançar.
O porrete em meu punho tremia,
Cada pelo eriçado se erguia como estaca,
Quando com um estranho e poeirento "Quaick, quaick,"
Entre as fontes,
Você voou como um pato,
Em asas assobiantes.
Que bruxos sombrios e velhas enrugadas
Contem como, com você em cavalos de urtiga,
Rasgam charnecas e penhascos vertiginosos
Com velocidade maligna;
E em cemitérios renovam suas alianças,
Sobre mortos escavados.
Então, mulheres do campo, com trabalho e dor,
Podem bater o creme sem resultado;
Pois, oh! o tesouro amarelo foi levado
Pela habilidade da bruxa;
E a garrafa de doze polegadas desapareceu
Como o rio.
Então, nós místicos fazem grande abuso,
Sobre jovens bons, ingênuos, ardentes e orgulhosos;
Quando a melhor lamparina da casa,
Pelo engenho das bruxas,
É imediatamente tornada sem valor,
Justo na hora.
Quando o degelo dissolve o estoque de neve,
E flutua a tábua de gelo tilintante,
Então os kelpies aquáticos assombram o rio
Sob tua direção,
viajantes noturnos são atraídos
Para sua destruição.
E frequentemente teus espíritos que atravessam os musgos
Seduzem o homem que tarde e bêbado está;
Os diabinhos flamejantes e maliciosos
Enganam seus olhos,
Até que em algum lamaçal ele afunde,
Sem jamais se erguer.
Fontes com registros de julgamentos e confissões de bruxas revelam como o Diabo era percebido e chamado por suas seguidoras: Cristãos o chamavam de Satan, Lucifer, Belzebu, etc. formas literais e teológicas. Já para as bruxas, ele era uma entidade divina, com nomes locais ou pessoais, que oficiava como líder espiritual durante o sabá, ensinava magia, e presidia os ritos de fertilidade e dança. Em certas regiões, cada bruxa chamava o chefe com um nome específico; noutras, havia uma designação comum em todo o coven .Desde sempre, a sabedoria popular captura nuances que os textos formais podem não refletir:
“Scotland has lots of names for the Devil. He is Auld Nick. He's Auld Horny. He's Auld Jack. He's Black Clootie. … We have all these different names, and a lot of the names are from way back, from our Pagan ancestors.” The Thing About Witch Hunts
“A Escócia tem muitos nomes para o Diabo. Ele é Auld Nick. Ele é Auld Horny. Ele é Auld Jack. Ele é Black Clootie. … Temos todos esses nomes diferentes, e muitos deles vêm de muito tempo atrás, dos nossos ancestrais pagãos.”
Essa fala, encontrada em um podcast sobre caça às bruxas, mostra como os folclores transmitidos oralmente reiteram a antiguidade e diversidade desses nomes.
Os praticantes de feitiçaria no Brasil que possui de alguma forma uma pratica pessoal e individual de "Comunhão com o Velho" possui suas formas de chamar o Diabo, até proque aqui mesmo os antigos dizia que não se deve chamar Ele pelo nome e sim pelos apelidos pois isso podia atrair atenção dele. Lembro que as pessoas antigas com quem eu aprendi muitas coisas, diziam que não se deve falar o nome Dele em voz alta pois onde ele estiver, vem correndo mas ir bater na porta de uma igreja a meia noite chamando Ele pelo apelido, pode acontecer dele aparecer.
Os nomes do Diabo aqui no Brasil teve muita influência do cristianismo, das crenças europeias, crenças africanas e até dos povos indígenas. Diabo do grego diábolos, “o que separa, o que divide”, depois absorvido pelo cristianismo como o inimigo de Deus foi revendicado pelas bruxas do velho estilo como um termo -titulo para nomear o Senhor da Bruxaria. Satanás – do hebraico satan, “adversário, acusador”. Belzebu – do hebraico Ba‘al Zebub, “senhor das moscas”, um deus filisteu demonizado pelos judeus. Demo – encurtamento de demônio, do grego daimōn (“espírito, gênio”), que no cristianismo virou maligno. Capeta – vem de capiroto ou de capeta mesmo, diminutivo de “capa”, ligado à imagem do Diabo de capa preta. Capiroto – provavelmente do italiano capretto (“cabrito”), reforçando a associação com bode. Pé-Preto – porque o Diabo era imaginado com patas de bode ou cascos queimados, sempre pretos. Pé-de-Bode – mesma associação: corpo humano, pés de bode. Cabrunco – de cabrunco/cabrão, ligado a “cabra”, reforçando a imagem diabólica caprina. Bicho-Tutu – criatura que assustava crianças, às vezes confundida com o diabo. “Tutu” vem do quimbundo africano tutú (“espírito que assusta”). Tinhoso – referência à sarna (“tinha”), uma doença associada à impureza; chamar o diabo de “doente” era forma de diminuir seu poder. Coisa-Ruim – tabu para não dizer o nome diretamente. O Tal / O Indivíduo / O Dito-Cujo – eufemismos populares para evitar chamá-lo. O Homem / O De Frente – apelidos que insinuam presença sem nomear. Cramulhão – pode vir do espanhol caramullón ou do português arcaico, significando espírito maligno ou “assombração grande”. Muito popular no sertão. Sete-Peles – Diabo descrito como tendo sete peles ou formas; ligado à ideia de metamorfose. Trancoso – ligado a Pedro Malasartes Trancoso, personagem de contos ibéricos que virou associado a pactos com o Diabo. Romãozinho – figura do folclore nordestino (criança amaldiçoada), às vezes visto como filho do diabo ou como sua encarnação. Mestre – o Diabo visto como “mestre” das artes proibidas. Patrão Velho / Patrão da Encruza – mistura com entidades da quimbanda (Exu, Tranca-Rua). Dono da Encruzilhada – referência direta ao pacto feito nas encruzilhadas. Homem de Preto – aparece em lendas onde o diabo surge vestido de preto para negociar pactos. Velho da Noite – associação com escuridão, mistério e emboscada. Tranca-Rua – nome que migrou das tradições afro-brasileiras, confundido com diabo em regiões mais católicas. Caveira – relacionado à morte, símbolo do diabo no imaginário rural. Diabo Coxo – lenda em que o diabo aparece mancando (pelo casco fendido ou pela queda do céu). Homem do Pé-de-Cabra – referência direta ao pé animal. Anhangá – em tupi, espírito protetor dos animais, mas visto como aterrorizante; com a catequese virou associado ao diabo. Curupira Canhoto – Curupira, espírito da mata, foi muitas vezes demonizado pelos missionários; sua característica de pés invertidos e ligação com o “canhoto” (mão esquerda) reforçaram a associação. Esses aqui são nomes, titulos e apelidos que o Velho das bruxas possui aqui no Brasil; os nomes do Diabo não são apenas insultos ou apelidos, eles são chaves de relação de temor, de pacto, de reverência ou de segredo.
Para o caminhante da Via da Bruxa do antigo estilo vai compreender que cada termo possui um longo poder a ser comungado, é importante entender que o Velho da Bruxa vai receber nomes, apelidos e títulos onde ele estiver pois Ele está em todos os lugares, em todas as encruzilhadas e Ele veste todas as máscaras para entrar com contato conosco. O Velho é muitos em um. Ele é o mesmo espírito, mas cada nome revela uma chave diferente para se relacionar com ele. O bruxo e a bruxa que aprendem essas chaves descobrem que, por trás do medo e da máscara, o Velho é sempre mestre — seja rindo, caçando ou provando seus filhos.

.jpg)



Comentários